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Beijo 14

O pobre beijo estava preso. Já fazia 50 anos que ele vivia para cumprir a pena de ter beijado quem não devia.

Era um beijo velhinho e barbudo. Ele sonhava que um dia seria solto e poderia voltar à andar no vento como antes.

Foi neste momento que o guarda abriu o cadeado.

O beijo foi vendado e levado para o castelo. Os soldados arrastaram o beijo por escadas e corredores até um dos aposentos da realeza.

Quando tiraram a venda dos olhos do beijo ele reconheceu o lugar: era o quarto da princesa.
Mas quem era aquela velhinha deitada na cama? Era a própria princesa. Ela já não era mais princesa, era a velha rainha e estava muito doente.

Ela havia chamado o beijo para beijá-lo pela última vez.

O beijo, por um momento, esqueceu o castigo e se sentiu feliz por ter permanecido na lembrança da princesa (que não era mais princesa) por tanto tempo.

Ele beijou aquela velhinha como havia beijado antes, com amor e devocão, e essa fora a razão do seu castigo.  Então a velha rainha suspirou e morreu.
O velho beijo disse então, – Afinal, ela nunca esqueceu. Eis que chega ao fim minha pena.

O chefe da guarda retrucou: 

– Sim, Velho Beijo, ela nunca esqueceu, mas jamais perdoôu a ousadia – e acorrentou o beijo e o levou de volta às masmorras.

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